quinta-feira, 3 de abril de 2008

Milimétrica

Não despreze o contato da pele contra a pele. Carinhos não devem ser rápidos, mas podem ser furtivos. Experimente e se delicie com a sensação de encostar as palmas das duas mãos nas costas nuas de alguém, num abraço forte. Toque a parte intrena do pulso. Beije com os lábios úmidos a face do outro.
As pessoas não se tocam, se higienizam o tempo todo. Ninguém mais abraça, ninguém encosta. Mais do que viver em bolhas, alguns não se permitem nem viver os próprios fluídos, cheiros e pêlos. São sensações negadas, são experiências negligenciadas. Não estou dizendo que as pessoas devem deixar de lado o banho, a depilação e o fazer a barba. Apenas devem aceitar que não somos lisos, inodoros e insípidos.
A realidade faz parte da intimidade. Todo mundo acorda com mau hálito, com a barba crescida. Depois de fazer amor, a cama fica molhada, ficamos suados, exalamos cheiros e guardamos fluídos um do outro. Chega de correr pro banho. Chega de negar que temos feromônios. Pele e pele. Misturar cheiros e saliva. Milimetricamente, com toda a intimidade.