sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Beijo Roubado

Nunca roubei um beijo. Já beijei um estranho, já beijei estranho, já estranhei um beijo. A coragem para levar meus lábios ao encontro da boca de alguém que não espera me beijar ainda não me veio. Sou relutante demais para agir antes que o outro perceba. Minha indecisão transparece e o outro age, e nos beijamos, então.
Eu não sei roubar um beijo. Eu não sei flertar, não sei ser uma mulher fatal. Não sustento um "tipo" por muito tempo. É fácil saber como eu sou, essa timidez, essa casquinha que envolve o meu recheio. Recheio generoso, delicioso. Verniz tênue, translúcido.
Meus freios, minhas âncoras. Roubar um beijo é algo dentro dos meus planos, uma fantasia plausível, e ao mesmo tempo, cheia de senões.
Por enquanto, sem coragem de ousar pegar à força algo que não é meu, ofereço, de bom grado, os meus lábios, caso você queria, algum dia, roubar um beijo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Blues dos cílios multicores na penumbra

A trilha sonora é "I Ain't the one", do Lynyrd Skynyrd.
Você olha nos meus olhos, bem de perto, e vê que eu usei rímel de duas cores.
Claro que eu vou baixar o olhar. E você vai olhar para os meus cílios, ainda. E senta na cama, recostado no travesseiro.
Desligo a luz do quarto e a claridade da noite entra pela janela aberta. Penumbra.
Eu danço o blues, e você não vê mais o salto alto pink levar meus pés pelo assoalho, apenas uma sombra que se balança, levada por uma voz rouca.
Eu tiro a roupa como se estivesse usando uma lingerie especial, com cinta-liga. Mas eram apenas calça jeans e camiseta. Arrumo os sapatos ao lado da cama e, quando termina a música, já estou de olhos fechados, sob você, dentro da quase-escuridão. Você me beija os olhos e as cores de tudo se misturam. Pena que tudo fica cinza na penumbra.

Falta

Falta você aqui. Agora. Falta riso nessa casa, falta o seu cheiro, falta o seu violão dedilhado. Faltam as suas falas tão inspiradas sobre qualquer coisa. Faltam aquelas nossas atitudes todas, de meio que namorados, meio que amantes. Falta o seu calorzinho na cama. Falta você me dar um beijo de manhã, antes de ir embora. Falta você entrar pela porta, com o teu sorriso lindo. Falta muito, período de carestia e abstinência. Falta tudo. Falta você. Vem!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A melhor companhia

Hoje vou passar a noite com uma garota incrível. Ela é inteligente, adoro o que ela pensa. Adoro o jeito que ela sorri. Tomei um banho demorado, e ao invés de colocar o pijama de todas as noites, vesti uma roupa bonita e calcei sapatos. Nunca, nunca estou de sapatos em casa. Ela vai passar a noite comigo, acordada, como sempre acontece quando meu amor viaja. Prendi os cabelos, fiz uma playlist no computador, com as músicas que ela gosta. Preparei um café fresquinho, um narguille de pistache. Vamos conversar por horas, talvez até na cama. Dependendo de onde for parar o papo, não sei o que pode acontecer, mas vou permitir.
Não, queridos, não terei uma experiência homossexual esta noite. Esta é mais uma noite sozinha, comigo. E eu adoro!

Clichês, mentiras repetidas até virar verdade.

Fiz trinta anos. Ouié. Muito melhor dentro da cuca, muito melhor resolvida, quase nenhum grilo, quase nenhum trauma. Medo de muito pouco, arrependimentos, quase nenhum. Inevitável escrever sobre Balzac. Claro que hoje sou muito mais experiente do que 15, 10 ou 5 anos atrás. Tantos "Não faço, não posso, não devo, não quero" se transformaram em minhas predileções. Tantas coisas que eu não podia conceber passaram a ser cotidianas. Disfarces, repressões, tabus. Caíram. Que gostoso deixar de lado as travas, as amarras (ops, amarras, as vezes, vão bem). Porém, sinto que este não é o meu auge. Não, ainda é muito cedo para iniciar o declínio. Preciso de mais uns anos para experimentar o que eu ainda não conheço, para me livrar dos poucos medos, para quem sabe, ter algum arrependimento. Não estou, ainda, no meu melhor momento.
Antes, preciso externar tudo o que me vai na alma, deixar o mundo saber, deixar essa cara de menina ir embora. Quando eu me ver mulher, aí sim, terei trinta anos. Ainda não. Ninguém acreditaria.

sábado, 22 de agosto de 2009

Vem ouvir meu coração bater!

- Aqui, ó, escuta meu coração aqui entre meus seios.
Ofegante, com as bochechas vermelhas, a testa suada e os cabelos se desfazendo da trança, vibro toda quanto você me ama.
- Assim, amor, enrosca suas pernas nas minhas e sente a minha pulsação nos meus pés. Beija, querido, beija o meu pescoço e percebe o quanto estou viva aqui, em baixo de você.
É o único momento que não me sinto aflita por ter sangue, que não me ensurdece o latejar nas têmporas. Quando eu me sinto viva, pulsátil, rítmica. Fazer amor é pertencer ao mundo dos viventes. Consciência do corpo, abandono da alma.
- Ouve!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Satânia, a mulher que transou com a luz do Sol

Visão tão sexy. Quantas mulheres se permitiriam ser lambidas pela luz? Quantos homens se permitiriam ser a luz que amou Satânia?
O quanto eu me desnudo, o tanto que você me conhece. O que eu me permito mostrar, o que você consegue desvendar. Sei que sou intermitente, como toda fêmea, tenho minhas fases. Sou humana, mundana, mudo de idéia. Mistério feminino, minha alma ainda é meu maior enigma.
Visualizo a luz que percorreu o corpo da mulher que Bilac imaginou. Imagino você me visualizando, de olhos fechados, tendo saudades, lembrando de como eu sou e o que você sabe sobre mim. Ao passar o tempo, as lacunas entre os peitos e a bunda vão sendo preenchidas não com imagens, mas com as minhas vontades, a minha voz, o meu cheiro, a textura dos meus cabelos, a cor dos meus olhos, as músicas que eu costumo ouvir no mp3, o cheiro do café que eu preparo para nós, no final da tarde, a posição que eu deito para dormir, o calor do meu corpo pela manhã.
Não tenha pressa. A luz de Bilac começou a desvendar Satânia pela ponta do pé. Temos tempo, continuarei aqui, nua para você, indefinidamente.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Nós somos simples, simples assim

Gostar de estar a sós e isso bastar. Tão bom é estarmos na beira do mar, nós e o sol. Sem parafernálias, sem plateia. Tão bom é estar embriagada sem beber, tão bom é estar feliz por estar ali. Tão bom é saber o seu beijo, depois de tantos beijos experimentados. Tão bom é poder fazer o simples. Sem máscaras, sem cu doce.
Sentir prazer em estar com você. Nem sempre juntos, sem rotina. Enfiar os pés na areia, ver figuras em nuvens:
- Aquela é um raio-x de uma baleia.
- Aquela lá é um cachorro sem orelha.
- Aquela bem comprida parece o que eu sinto quando vejo um passarinho sair voando do beiral da janela.
Quando o amor encontra seu lugar entre duas almas, todo cenário é de super produção. Cada raio de sol é um efeito especial. Fazer amor é "matrix revolutions". Beijos são alucinógenos. Café com pão e manteiga é jantar à francesa. Simples e perfeito.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Recordar é viver

Ah, meus 16 aninhos. Como eu era linda. E sarada. E tinha todas as possibilidades pela frente. Ah, os teus 18 anos! Como você era lindo, e sarado. E tinha todas as possibilidades pela frente.
E como eu era ciumenta, e você era inseguro. E como a gente tinha medo de bobagem. E como a gente sofria por essas bobagens. Como éramos irresponsáveis. E como éramos insolentes.
Eu e você corríamos riscos desnecessários. E nos deslumbrávamos com pouco. Fazíamos as escolhas mais mesquinhas.
Recordar é viver! Apesar da beleza que hoje já não é mais a mesma (não é menor ou pior, é diferente), hoje somos pessoas muitíssimo mais interessantes, melhores, inteligentes, centradas e seguras. Hoje eu me apaixonaria pelo você "hoje". Aquele garoto não seria suficiente.
Aquela garota, acharia do "você hoje" um chato, que só pensa no que pode dar errado.
Hoje, eu acho aquela garota muito fútil e limitada. Hoje, você acharia aquela garota "gostosinha", mas "um saco".
Eu, hoje, amo você hoje.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O amor é brasa.

Um certo frio na barriga. A promessa da novidade me deixa em estado de êxtase. Mesmo que não seja de completo novo, mas sim, visto com um novo olhar.
Os relacionamentos são mutáveis. Somos amigos, amamos, voltamos a ser amigos, e nada impede de voltar a amar. Muito menos de sentir paixão.
O amor é brasa. Mesmo sem apresentar labaredas, queima, esquenta, ilumina. Para ser chama, basta um pouquinho de oxigênio. Estou de novo, em chamas. Nada é novo, apenas as possibilidades são diferentes.